quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Ciclo 12


Ciclo 12

Eles se conheceram pela Internet em uma tarde qualquer de março quando perguntas sem respostas dominavam a mente dos dois. Ela o chamou na sala de bate-papo simplesmente porque achava  bonito o seu nome. E ele aceitou de imediato conversar com aquela estranha  tão interessante e atrevida.
A conversa durou horas naquele primeiro dia. Ele contou a ela que acabara de passar por um grande trauma físico e ela não escondeu dele que ainda sentia os efeitos de um grande baque emocional.
As suas dores se juntaram diante da tela daquele computador numa terapia que era traduzida em letras coloridas que preenchiam mais e mais painéis enquanto eles conversavam.
Em abril ele já falara com ela sobre a alegria angustiada que sentia com a chegada de um presente do destino e ela já lhe contara do medo que sentia por, talvez, jamais encontrar o verdadeiro amor.
No mês de maio os ares do sul e do sudeste começaram a esfriar com a chegada próxima do inverno e, talvez pelo fato de se descobrirem capazes de aquecer  um ao outro, eles  se julgaram apaixonados.
Mas era tudo alucinação de suas mentes ainda doloridas.  E essa alucinação trouxe a cobrança, o ciúme, a discussões e a separação. Por isso os meses de junho e julho foram ainda mais frios do que o próprio inverno.
O menino sentia a falta dela. E para a menina era triste olhar aquela tela nua todo final de tarde. Mas o mês de agosto encheu o céu de pipas coloridas e ouso dizer que é certo que todas aquelas cores lhes tenham iluminado os corações.
Por tudo isso, quando em setembro veio a primavera, aquela tela outrora nua, encheu-se novamente de risadas e relatos diários traduzidos em símbolos de todos os jeitos.
Foi promovida no trabalho. Ele recebeu visitas indesejadas, mas encontrou uma nova maneira de caminhar. E ela tudo contou para ele. E ele nada escondeu dela.
A distância não impediu seus pensamentos de conversarem durante todo o tempo.  Então, quando no mês de novembro ela seguiu em um ônibus para ser examinada por contrastes doloridos, ele segurou sua mão através da tela de um celular.
Mas foi na noite de Natal que ele surpreendeu-se pensando nela enquanto a chuva batia na vidraça. E foi na virada de ano que ela sorriu misteriosa ao perceber que os fogos de artifício tinham o mesmo brilho que ela vira nos olhos azuis dele através da fotografia.  
As férias de janeiro desaceleraram o tempo e as tardes foram preenchidas por confissões sentimentais regadas a risadas que os embriagavam docemente como se fossem vinho.
Porém, após o Carnaval, eles perceberam que até o efeito do vinho mais forte um dia se esvai do corpo e que aquilo que eles sentiam um pelo outro, não era uma dessas fantasias que a gente encontra em festas de salões e ruas. Era algo muito mais forte e muito mais doce que qualquer vinho. Era um sentimento que fora crescendo aos poucos e, como água, fora invadindo suas vidas, suas mentes. Era algo que preencheu o coração da menina e do menino de uma alegria tão grande que já não podia mais ser contida.
Agora outro ciclo começaria. Cheio de sonhos e incertezas. Cheio de medo e esperança. Um novo ciclo que, naquele momento, dava ao menino e à menina somente uma certeza: a certeza de que, não importando o acontecesse dali pra frente, eles seriam pra sempre um do outro.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Sorvete de creme

Sorvete de creme

Era o mês de janeiro e era uma praia deserta.
O garoto caminhava pela areia quando a viu sentada numa daquelas cadeiras coloridas que são vendidas em qualquer barraquinha do calçadão.
Imediatamente sentiu-se desconfortável. Alguma coisa surgiu dentro dele assim que seus olhos se encontraram. Era algo quente e pulsante. Algo que nunca, em seus doze anos de vida, jamais havia sentido antes.
A garota nem era assim tão bonita. Seu cabelo era excessivamente liso e escorria de maneira ao mesmo tempo desordenada e grudenta sobre a pele sardenta. Sobre os ombros um fio finíssimo de biquíni amarelo seguia até os pequenos seios ainda verdes.
Em sua mão direita um sorvete de creme começava a derreter e criava um caminho levemente adocicado por entre seus dedos de unhas roídas.
Ela parecia não perceber o garoto na beira da praia. Desviou o olhar dos olhos dele distraidamente e com a mão esquerda retirou uma franja que teimava cair sob seus olhos verdes.
Então a garota passou os lábios por entre os dedos sugando cada gota do sorvete de maneira delicada, mas firme. A língua rosada em contraste com a pele branca subia e descia ao mesmo tempo em que em seus olhos uma espécie de gozo inocente transparecia penetrando a imagem refletida da água do mar.
Inquieto o garoto queria fugir dali, mas seu corpo não o obedecia. Suas pernas bambearam quando tentou dar um passo a frente e o calor de seu corpo foi aumentando fazendo com que gotas de suor escorressem sobre sua pele.
A visão da língua da garota subindo e descendo por entre os próprios dedos fazia com que seu coração batesse forte e de repente o mundo a sua volta começou a girar.
Primeiro lentamente e depois cada vez mais rápido e mais rápido até que suas pernas perderam as forças e ele caiu no chão arquejante e cansado.
Nesse momento, a garota se levantou e passou por ele a fim de lavar as mãos sujas de sorvete na água do mar.
E nem sequer notou o outro sorvete de creme que abria caminho pela areia.


sexta-feira, 4 de janeiro de 2013




Cúmplices

     Eram dois namorados. No sentido exato da palavra amor. Não aquele amor que ia e voltava conforme as circunstâncias. Era aquele amor que, aos poucos fora se impregnando em nossas peles e em nossas almas.
     Naquela tarde de outubro caminhavam no parque da cidade.  Usávam passos curtos, porque, em êxtase de amor, aquele que ama não tem pressa.  E usavam o silêncio, porque na maior parte das vezes, a palavra destrói o encanto de amar.
     Sentaram-se embaixo da grande árvore, num banquinho todo encardido pelas marcas constantes de mãos e pés. Mas eles não viam nada daquilo. Apenas sentiam as mãos entrelaçadas uma na outra. A dela, pequena e doce, com unhas recém pintadas de um rosa  tão pálido que quase não mais o era. A dele, grande e protetora, capaz de a segurar com firmeza não importasse a altura do tombo.
     Deixaram-se ficar ali. Por um momento parados apenas sentido no corpo o calor do sol. Era um calor doce, afável. Era uma carícia.
     Em um momento qualquer, ela olhou para o chão e viu a  pequena formiga na terra seca.
     Era dessas formigas miúdas, mas cheia de energia e graça. Ao contrário dos namorados ela parecia ter pressa. Andava de um lado para outro como se procurasse por algo há muito perdido. Então ela notou que a formiga agia assim porque sentia a vibração causada pelos seus corpos.
     A moça olhou para o rapaz e ele, compreendendo, parou de mexer os pés. Apertando-lhe a mão ela  continuou a olhar o pequeno inseto que agora seguia em segurança em direção ao concreto do banco. Parou por um instante como se pensasse se valeria a pena escalar tão grande montanha. Mas seu pensamento foi mais lento que suas pequeninas pernas, pois mal acabara de pensar, já estava bem perto das coxas da moça. Essas eram negras, mas infinitamente mais claras que o restante do corpo que mais parecia as asas da ave usada pelo famoso escritor.
     O rapaz acompanhava hipnotizado todo o movimento da atrevida formiga. Começou a sentir um certo incômodo quando o pequeno ser sumiu por debaixo da saia da moça. Esta, numa atitude inocente, fez que não percebeu sua angústia e delicadamente abriu um pouco mais as pernas.
     O rapaz suava frio. Soltando a mão da moça, passou as costas da sua pela testa. Podia inundar  todo o parque em menos de um minuto e ela o sabia. Por isso mesmo continuava a contorce-se soltando pequenos gemidos.. É que a formiga, a pequenos intervalos de tempo, enfiava seu ferrão no pequeno corpo magro provocando uma sensação de mista de prazer e dor.
     Os olhos dela encontraram os dele quando, triunfante, o pequeno inseto surgiu na altura do busto da moça. Viram no olhar um do outro que agora tudo havia acabado.
     Estavam cansados, mas felizes.
     Por isso, assim que a pequena formiga alcançou o frio concreto e logo depois o chão, os dois namorados levantaram-se e, sem trocar uma única palavra, seguiram seu caminho.
.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Ela





 
Ela

é uma dor que dói pingando todo mês
e que me faz chorar outra vez

O sol do meio dia




Sol de meio dia


Todo mundo, pelo menos uma vez na vida, já sentiu o sol do meio dia. Ele aprece nas situações mais simples da vida e costuma brilhar tanto que deixa nos deixam cegos. Por isso, muitas vezes, passa despercebido de tanto brilhar e a gente só consegue vê-lo em uma noite qualquer, quando estamos batendo papo com amigos recentes que quase não sabem nada da gente, mas que nos conhecem tanto porque somos iguais a eles apesar de tão diferentes.
Nessas conversas de esquina que começam do nada, mas se abrem como flores da primavera, o sol de meio dia aparece nas lembranças de infância nas quais nós, juntamente com meus três irmãos, nos sentávamos com nossa mãe na varanda lá de casa durante as férias frias de julho a jogar conversa fora enquanto nos aquecíamos uns aos outros mais do que o sol aquecia a gente. Duvido que exista no mundo, alguém com lembrança mais doce que a voz da minha mãezinha nos contando, naqueles momentos os segredos do mundo inteiro. Segredos do tipo que só as mães sabem, porque guardam no peito o calor intenso do sol de meio dia.
Nessas conversas de viagens longas em que nos sentamos ao lado de um estranho próximo, também costumamos nos lembrar do sol de meio dia. Talvez porque enquanto olhamos a paisagem dos postes que correm e se confundem com as árvores, confundimos também nossas conversas e entregamos ao outro a lembrança daquela tarde de domingo em que, deitados sobre o peito nu de meu pai, eu dormi uma tarde inteira. E no meu sonho as vozes das personagens se confundiram com o palpitar de seu sangue.  É por isso que eu duvido que possa existir no mundo, alguém com lembrança mais doce do que o cheiro da pele do meu paizinho contando-me os segredos do mudo inteiro. Segredos do tipo que só os pais sabem, porque guardam no peito a paz e a segurança que retiram do calor intenso do sol de meio dia.
Outras vezes estamos no corredor de um hospital qualquer esperando notícias de um ente querido. E começamos a conversa falando do calor, ou da vida, ou da morte. E de repente eu em lembro daquelas madrugadas de longas conversas com meus irmãos. Os quatro deitados em camas separadas, porém tão juntas. E, enquanto trocávamos segredos de alcova, soltávamos gargalhadas que alcançavam as estrelas e a lua. E os cometas e todo o universo paravam para olhar para aquelas quatro crianças cheias de sonhos. É por isso que eu duvido que possa existir no mundo, alguém com lembrança mais doce do que a alegria de meus irmãos contando-me os segredos do mundo inteiro. Segredos do tipo que só os irmãos sabem, porque guardam no peito a cumplicidade que retiram do calor intenso do sol do meio dia.
Às vezes parece que o sol do meio dia se pôs para sempre. Talvez porque o tempo tenha varrido a varanda da antiga casa. E tenha me feito crescer tanto que já não me encaixo mais no colo de meu pai. Talvez porque cada um dos quatro irmãos tenha tomado um rumo diferente na vida. Cada qual com seu quarto e sua cama. E seus problemas e seus sonhos.
Mas outras pessoas vieram. E continuam vindo. É que em alguns momentos o sol de meio dia está apenas a me cegar de tanto brilho.                               

domingo, 19 de agosto de 2012

Frase II


"Se a casa de um homem não
 serve quando ele é um mendigo, tampouco ela servirá quando ele tornar-se rei."

Frase!




O verdadeiro amigo entende a dança com tamanha intensidade que esquece até de ouvir a música.